Ainda bem que o tempo passou
E o amor que acabou não saiu.
Ainda bem que há um fado qualquer
Que diz tudo o que a vida não diz.
Ainda bem que Lisboa não é
A cidade perfeita p'ra nós.
Ainda bem que há um beco qualquer
Que dá eco a quem nunca tem voz.
Ainda agora vi a louca sozinha a cantar
Do alto daquela janela.
Há noites em que a saudade me deixa a pensar:
Um dia juntar-me a ela.
Um dia cantar como ela.
Ainda bem que eu nunca fui capaz
De encontrar a viela a seguir.
Ainda bem que o Tejo é lilás
E os peixes não param de rir.
Ainda bem que o teu corpo não quer
Embarcar na tormenta do réu.
Ainda bem se o destino quiser
Esta trágica história, sou eu.
Ainda agora vi a louca sozinha a cantar
Do alto daquela janela.
Há noites em que a saudade me deixa a pensar:
Um dia juntar-me a ela.
Um dia cantar como ela.